Imagem: olhares.uol.com.br
Cotidiano
Um político passa em carro alegórico
a súcia aplaude. Uns poucos impetuosos
vaiam. Coisas da oposição!
O centroavante perde o gol e o grito
transformado em murmúrio, morre.
Alguns praguejam à vontade, de
boca-suja.
São tempos de seca, vacas magras devoram
a ilusão gorda e rica.
Faráo decreta o racionamento, alegria
fragmentada,
em torrões é servida em migalhas.
Um burro rola na relva espaventando
fantasmas
de arreios e chibatas e esporas...
O automóvel para na esquina e a menina
indecisa
tropeça no passeio. A malta gargalha
e ri com toda a boca e dentes...
Pairam os arranha-céus sobre calçadas e
marquises
espionando pedestres minúsculos que
olvidam o céu
nem para previsão do tempo.
A cidade se excita nervosa, geme em cada
esquina
e praças. Estala, dilata, contrai. Será
que arrebenta?
O besouro, embalde tenta desvirginar
vidraças,
as flores se perdem no asfalto, e mortas se despetalam...
É a vida que flui!
***
* Classificada entre os 90 poetas que avançaram para a II Fase Classificatória no II Concurso de Poesias Autores S/A - 2012 (entre 502 concorrentes).
Francisco Ferreira
francisco.ferreira68@hotmail.com
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