Brasilidade
Meu sangue mestiço, de latinidade pura
é viscoso feito óleo, é pegajoso visgo de
jaca.
Alguns elementos químicos estranhos o
contaminam
resquícios de algum malogrado bem-querer,
saliva e sódio do sal do último churrasco.
Alguns gramas de chumbo de emboscadas
atravessadas incólume,
sebo de carneiro de ferimento antigo,
óleo de Copaíba, mercurocromo, mertiolate e
sulfa
e porções de substâncias proibidas.
Espesso como cheiro de fêmea, denso de
florestas tropicais.
Gotículas, aqui e acolá, de revolta, ira e
desespero.
Um tantinho de bile, cachaça e fumaça de
charuto
de despacho que, distraído, derribei em
esquinas suspeitas.
Maleita não tem, AIDS, tifo, tuberculose,
diarréia também não.
Quiçá cocos de doenças de rua...
Tem desejos meu sangue, traços de canto
inconcluso,
rastilhos de poesia e o eterno tédio dos
homens comuns
e o banzo ancestral, além de acordes de
banjo...
Tinta de carimbo de alguma repartição, e um
bom bocado de burocracia
descrédito e desconfiança asco e terror.
É um sangue comum, destes que não fedem nem
cheiram,
mas que deságua, de geração em geração,
em brasileiros obstinados!
3º Lugar no Concurso
Libério Neves de Poesia da Associação Comunitária de Moradores de Conjunto
Califórnia (Belo Horizonte- MG) em outubro de 2012.
Francisco Ferreira
francisco.ferreira68@yahoo.com.br
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