quinta-feira, 19 de julho de 2012

Clar(ic)enigma



Imagem: gelonegro.com.br

Seria ousadia em pressupor
que ela (que se propôs indecifrável)
clareasse seus enigmas e minha mente.
Nesta altura das sombras
o campeonato está perdido
e a esfinge já alçou o bote.
Ela não é mais a menina
tímida e esguia tão somente
cultivando estrelas de hora marcada
é o mistério imposto:
“Decifra-me ou te devoro!”
O sol que se lhe reflete (n)a alma
caustifica o bolor de meu raso intelecto
cega-me o olho sem clarear
o mundo e as visões inteligíveis
e impalpáveis que sua pena, de jorros breves,
precisos, pretendeu.
Não lhe alcanço, como aliás,
ela também, por inteiro,
jamais se alcançou, não se decodificando
nem mesmo para si. Se faz mistério!
No intrincado jogo de burlar a vida
e jamais crescer, mestra do disfarce,
fotografa o mundo pelas janelas
de olhos felinos... 

***

Obs.: Este poema era a segunda opção para a II Rodada da Fase Final do II Concurso de Poesias Autores S/A - em homenagem a Clarice Lispector.

Francisco Ferreira

francisco.ferreira68@hotmail.com

2 comentários:

  1. "Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que faz sentido, eu não, quero uma verdade inventada."

    Clarice Lispector

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