Cantar.
A despeito da dor que lhe habita o peito,
Da agonia que lhe comprime aortas,
Fazendo implodir-lhe o coração.
Insensível a surdez que opõe barreiras
A alma oprimida do povo.
Do lenho, do fardo, do limbo...
Viver.
Embora o verme que o vento abriga
Náuseas e vômitos lhe cause. Dores...
Perfurando-lhe as entranhas ocas,
Corroendo-lhe as vísceras.
Do torpor da fome, do estômago ulcerado.
Da abundância da colheita, da maldição da falta;
Do embuste, do engodo,
Do engano, do medo.
Sorrir.
Apesar da ferida purulenta
Que lhe horrenda a cara – navalhas da vergonha -;
Do câncer da humilhação que lhe corrói as carnes.
Insensível aos antibióticos oficiais,
Impassível a covardia dos títeres
E a perdição das massas.
Do infortúnio, do inferno
Da ameaça do purgatório.
Buscar.
A despeito do mar de ignóbeis mãos
Que distorcem a visão tapando-lhe os olhos;
Confundindo as pernas, atravancando os passos;
Que lhe agarram, amordaçam, comprimem.
Dos grilhões da insensatez, das cadeias da insanidade,
Das masmorras, da insensibilidade,
Dos poderosos, dos tiranos...
Sorrir.
Embora a ciência da fartura da messe
E a escassez de operários.
Incapaz ante a opulência da Rainha
E a degradante pobreza da colméia humana.
Da profanação das sagradas mentes do povo.
Do vilipêndio do vil discurso,
Da fé alienante, do fiel alienado...
Esse é ofício do Poeta!
Francisco Ferreira
Nenhum comentário:
Postar um comentário